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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O ADEUS DE UM FILHO.

É hora de dizer ADEUS
Autor: Rubem Toledo Bergamo

É bem difícil para mim neste momento, em poucas palavras, falar de meu pai. Gostaria
de lhe fazer esta última homenagem, ou melhor, mais uma homenagem, pois se
conseguir seguir todos seus ensinamentos de vida está seria a maior homenagem que
eu poderia lhe dar. Tentarei dar meu máximo, mas quem dera eu ser metade do
homem que ele foi.
Meu pai sempre foi uma pessoa que nasceu para servir aos filhos. Homem capaz de
percorrer kilômetros apenas para dizer, “fique tranquilo meu filho, eu estou aqui”.
Lembro-me de uma situação em 1985 quando já morava em Florianópolis fazendo
faculdade de Engenharia e perdi minha calculadora científica que ele havia me dado.
Liguei para ele muito chateado, pois ele sempre quando nos dava algo, ele sempre
pedia para tomarmos cuidado para não perder ou não ser roubado. Minha irmã
Adriana que o diga, sua mobilete foi roubada com uma semana de uso, mas como ele
sempre esteve um passo a frente de nós, ele havia feito um seguro... Mas minha irmã
não escapou de um sermão e de um aprendizado. Voltando a minha calculadora... Ele
me disse: “Está vendo meu filho, eu te avisei para tomar cuidado com suas coisas”.
Passaram-se dois dias e pasme, meu pai estava em Florianópolis com uma calculadora
idêntica a que havia perdido. Tempos aquele que a viagem até lá durava pelo menos
10 horas. Esse era meu pai, não tinha distância para ele se fosse para ajudar um filho.
Meu pai sempre disse que a maior herança que ele poderia deixar para os filhos era a
educação e nunca mediu esforços para que nós pudéssemos estudar e nos formar. Ele
dizia que um diploma valia mais que uma fazenda. Ele participou de todas as
formaturas de filhos e netos. Fazia questão de estar presente em todas, pois se formar
era algo de muito valor para ele, em todas elas se emocionava como se fosse à
primeira vez.
Lembro-me dele me contando as histórias de sua vida várias vezes, em uma delas ele
conta que uma vez estava voltando do trabalho como mecânico em Londrina, com as
mãos sujas ainda de graxa andando pelos trilhos do trem a caminho de sua casa, ele
pensou que a única forma de melhorar sua vida seria seguir adiante nos estudos até a
faculdade. Foi para Curitiba onde trabalhava durante o dia em um Banco, para se
sustentar, e fazia curso de Direito na Faculdade Federal do Paraná. Ele me disse que
não passou fome, mas passou frio em Curitiba. Dormia em um pensionato que era um
casebre de madeira onde as frestas da parede eram abertas e o frio era grande. Mas
isso não era obstáculo para tamanha determinação e objetivos que ele havia traçado
para sua vida.
Já como advogado e morando em Iporã-Pr, com quatro filhos na época, ele advogava
para sustentar a família e fazia isso com muita dedicação e profissionalismo, mas ainda
faltava algo a mais na sua vida profissional. Então, com muito afinco e dedicação,
começou a estudar para entrar na magistratura. É verdade que não foi no primeiro
concurso que ele passou, mas com quatro filhos na época para sustentar, ele tinha que
trabalhar o dia todo e somente a noite conseguia estudar. Em minha cabeça vem à
lembrança da imagem de meu pai noites adentro estudando em um pequeno
escritório que tínhamos em casa. Ele lia os livros em voz alta e gravava em um
pequeno gravador cassete, quando se deitava para dormir ele colocava um fone nos
ouvidos e escutava tudo novamente. Aquilo me impressionava tamanha sua
determinação com os estudos. Ele poderia ter seguido adiante como um advogado
bem sucedido que era, mas ele sempre disse que temos que pensar sempre em nossa
aposentadoria, nunca se deve depender de ninguém no fim de nossas vidas. Ele
sempre disse que a vida é um contrato de risco e não espere que não vá ocorrer
acidentes, por isso se prepare. E com todas as dificuldades aparentes, já com seus 40
anos, ele passou no concurso da magistratura e foi seguir seu sonho. A magistratura
era a cara dele. Meu era um homem de honestidade imácula e dotado com um alto
senso de justiça, às vezes palavras fortes pesavam aos ouvidos dos desavisados, mas
para ele nunca existiu meia verdade e sim a verdade absoluta. Ou é ou não é.
Há muito tempo meu pai me disse - certamente para fazer um agrado de pai - que se
ele tivesse minha inteligência e as oportunidades que eu tive ele iria muito longe...
Acredito que era uma forma de me incentivar, mas eu lhe disse: “Pai, graças a Deus
você me oportunizou estudar sem pensar em dificuldades e não lhe decepcionei, mas
quem dera eu ter 10% da sua garra e determinação para vencer os obstáculos que a
vida lhe impôs ”. Na verdade o meu aprendizado foi que: “não basta você ter, você tem
que querer e a pior maneira de não chegar a determinado lugar é pensar que já se está
”.
Meu pai era um homem de virtudes admiráveis, dignas de um amigo, conselheiro e
pai. Ter um pai como ele é privilégio para poucos, tamanha sua dedicação e amor a
esposa e filhos. Eu teria muitas páginas para ler sobre meu pai neste momento, mas o
seu legado para nossa família nunca será esquecido, pois não precisa estar escrito e
sim estar registrado em nossos corações. Ele foi uma pessoa especial e sua biografia
escrita seria uma das mais belas, com um enredo de vitórias, conquistas e alegrias.
Tudo isso que vós falo agora sobre meu pai somente foi possível, pois ao seu lado
sempre esteve uma grande mulher e mãe. Graças a ela meu pai pode crescer e educar
seus filhos. Meu pai nunca tomou uma decisão sem consultar minha mãe. Foi o único
homem da vida de minha mãe, o único homem a ser beijado por ela. Tamanha
devoção e amor ao meu pai me saltaram aos olhos nestas últimas semanas antes dele
nos deixar. Fielmente todos os dias minha mãe ficava ao seu lado no hospital como
uma adolescente apaixonada. Amor como este após 53 anos juntos é digno de
admiração.
Obrigado Mãe por estar sempre ao lado de meu Pai, sem você não haveria esta
história de vida.
Meu Pai sempre dizia para nós que só ficamos sozinhos no mundo quando perdemos
nossa mãe. Permita-me pai, discordar desta sua verdade absoluta e dizer que esta
seria a minha meia verdade, pois todos nós, senão completamente, estamos mais
sozinhos neste momento.
Obrigado Pai, por seu infinito coração e por cada amanhecer que estive ao seu lado.
Obrigado Pai, Por estar sempre ao meu lado quando sempre precisei.
Obrigado Pai, por compartilhar comigo os melhores momentos de minha vida.
Obrigado por ser meu pai.
Sabes pai, eu sabia que algum dia você partiria e que não estaria mais perto de nós,
mas todos os dias de minha vida eu vou agradecer a DEUS que designou ter você como
meu pai.
Que Deus na sua infinita misericórdia lhe dê a descanso merecido.
Nós te amamos muito.
(TEXTO LIDO NA MISSA DE SETIMO DIA DE FALECIMENTO DE SEU PAI)

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