Mau sinal?
Como quase todo brasileiro acompanhei entre divertido, entediado e emocionado, a posse de Dilma Roussef. Tive aquela certeza de estar acompanhando um momento histórico, com a saída do presidente que mudou para melhor a cara do Brasil, apesar da, por falta de adjetivo melhor, ‘nojenta’ edição da revista Veja, sobre os anos de Lula.
Dilma era a mulher de todos os focos, embora a TV me mostrasse de vez em quando a amiga Fátima Cleide, senadora rondoniense. E revelasse para o Brasil inteiro a mulher de Michel Temer. Enfim...
Mas o que me chamou a atenção no discurso de Dilma foi uma pequena alusão a Amazônia. Ou seja, a nós.
Alguém lembra como a presidente se referiu? Disse ela que o governo que se inicia irá olhar para todos, da ‘solidão da Amazônia a...’
Peraí. Como assim, solidão da Amazônia? Acaso a presidente não sabe que moram aqui nessa região 26 milhões de pessoas, segundo o censo mais recente do IBGE? Que a Amazônia possui duas grandes metrópoles, Belém e Manaus e estados em franca expansão, como Rondônia e Acre?
A referência de Dilma me soou como a antiga visão dos militares sobre a Amazônia. Para os militares a Amazônia era um imenso vazio demográfico, uma região que precisava ser ocupada, domada, civilizada, desenvolvida. E tome planos mirabolantes e grandiloqüentes. A Transamazônica é o mais lembrado deles, mas há outros. Muitos outros.
Essa semana o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto escreveu sobre as obras das eclusas de Tucuruí, no Pará. De como os grandes projetos para a região nunca levaram em consideração os aspectos peculiares da Amazônia. A visão sempre foi colonizadora e desenvolvimentista. Os rondonienses sabem disso. A estrada de ferro Madeira Mamoré é ícone nesse sentido.
Em Porto Velho a construção de duas usinas hidrelétricas solaparam duas cachoeiras que faziam parte de uma historia única. Mas há sempre o discurso do progresso e do desenvolvimento para justificar tudo. Como está ocorrendo no Pará, mais precisamente em Altamira, com a construção da usina de Belo Monte. Não interessa que o EIA-RIMA seja falho, feito nas coxas, eivado de irregularidades. Os ‘empregos’ que irá gerar justificam isso na avaliação dos defensores desses projetos.
O engraçado, ou irônico, melhor dizendo, é que a historia recente da Amazônia mostra que quase nada desses projetos serviu para melhorar a vida da população amazônica. A energia de Belo Monte é para grandes empresas de mineração e para o sudeste do Brasil. Em Tucuruí, há uma comunidade próxima a represa, que mesmo próxima ao linhão de energia, não tem acesso a energia elétrica.
Dilma sempre se mostrou uma técnica pragmática. Trombou diversas vezes com a então ministra Marina Silva. Desenvolvimentismo é uma palavra que era doce na boca da mulher forte de Lula. A referência a Amazônia como um lugar solitário, soou a meus ouvidos como um mau sinal. Vêm aí mais projetos gigantescos para a Amazônia. Contrapartidas sociais e ambientais? Hum...sei não ( TEXTO ISMAEL MACHADO)
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